17 de mar. de 2010

São Paulo acolherá conferência internacional sobre sustentabilidade energética

Ao lado do aquecimento global, a sustentabilidade energética constitui um dos maiores desafios para a atual geração. Seremos capazes de produzir energia renovável e relativamente limpa em quantidade suficiente para assegurar a continuidade do desenvolvimento humano no planeta? Ou a civilização entrará em colapso devido ao inevitável esgotamento das fontes não-renováveis de energia e à excessiva poluição ambiental causada pelos combustíveis fósseis?

Compor uma espécie de painel global sobre sustentabilidade energética, do mesmo modo como existem painéis globais para a discussão das mudanças climáticas e da biodiversidade, é a meta do Global Sustainable Bioenergy Project (GSB). Para alcançá-la, a organização programou para 2010 cinco grandes convenções internacionais. A terceira delas será realizada em São Paulo, Brasil, de 23 a 25 de março, na sede da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) – The Latin American Convention of the Global Sustainable Bioenergy Project.

Idealizado e coordenado pelo norte-americano Lee Rybeck Lynd, pesquisador do Dartmouth College e pioneiro no estudo e utilização da biomassa para a produção energética, o GSB reúne cientistas do mundo todo, preocupados com o enorme desafio de obter energia renovável e relativamente limpa sem comprometer a produção de alimentos e com o mínimo de impacto sobre o meio ambiente. Com base em estudos preliminares, Lynd e outros acreditam que a biomassa (como a da cana-de-açúcar e de outras espécies vegetais) poderá suprir 25% da demanda internacional de energia nos próximos 50 anos – uma promessa otimista neste tempo de notícias sombrias e alarmantes.

Um debate necessário e urgente

Um dos motivos do otimismo de Lynd é a pesquisa que vem realizando com vista ao aproveitamento da parte celulósica das plantas (bagaço e palha) na produção de energia. Atualmente, boa parte dessa fração, que corresponde a dois terços da biomassa, é simplesmente descartada, sem contribuir para o aporte energético e com impacto sobre o meio ambiente. Novas tecnologias para conversão da celulose em etanol permitiriam atingir com segurança a meta dos 25% sem um aumento expressivo das áreas cultivadas e, portanto, sem prejuízo para a produção alimentar e os habitats naturais.

Mas o tema está longe de ser tranquilo e, antes que o painel possa ser composto, muitas perguntas precisam ser respondidas de forma consistente. A utilização intensa de biocombustíveis diminuirá ou aumentará a emissão de carbono, afetando o aquecimento global? Como evitar que as plantações destinadas à produção de biomassa avancem sobre áreas atualmente destinadas ao cultivo de alimentos e reservas florestais? Que impacto essas plantações terão no consumo de água, um recurso a cada dia mais escasso? Em que medida os países com pouco potencial para a produção de biomassa se tornarão economicamente dependentes dos fornecedores de biocombustíveis?

Estas e outras questões estão na pauta das cinco conferências do GSB. A primeira delas, voltada para a realidade europeia, já aconteceu na Holanda, no final de fevereiro. A segunda, atualmente em curso na África do Sul (17 a 19 de março), tem como cenário a África. A terceira, aquela que deverá ocorrer no Brasil, enfocará a América Latina. A quarta (Malásia, de 14 a 16 de junho) e a quinta (Estados Unidos, de 14 a 16 de setembro) se encarregarão, respectivamente, da Ásia e da América do Norte.

Finalizada esta primeira rodada de reuniões e sintetizados os resultados, o GBS passará a duas outras etapas: 1) responder, com provas convincentes, se é materialmente possível suprir uma fração substancial da demanda energética (combustíveis veiculares e eletricidade) a partir da produção de biomassa, sem comprometer o fornecimento de alimentos, a preservação de habitats naturais e a qualidade do meio ambiente; 2) propor estratégias viáveis e responsáveis para a transição da atual matriz energética rumo a uma nova matriz, mais equilibrada e renovável.

O papel do Brasil no novo cenário energético

A escolha de São Paulo para sediar a terceira conferência não foi gratuita. O Brasil está hoje na vanguarda da produção de energia a partir da biomassa. Praticamente a metade da energia consumida no país é gerada por fontes renováveis. E, dessa metade, 16% provêm do etanol. No estado de São Paulo, os números são ainda mais expressivos: 56% de energia renovável, sendo 38% proveniente da cana-de-açúcar. Nos últimos 30 anos, o uso do etanol de cana-de-açúcar permitiu que a participação do petróleo na matriz energética do estado caísse de 60% para 33%. Ademais, o uso da celulose do bagaço de cana para a geração de eletricidade já vem sendo bastante praticado no país.

Todos esses temas estarão presentes nos debates da comunidade científica. Na convenção em São Paulo estarão presentes outros dois idealizadores e dirigentes do GSB – Nathanael Greene, do Natural Resources Defense Councial, dos Estados Unidos, e Tom Richard, da Pennsylvania State Univerisity. A delegação brasileira na terceira conferência será encabeçada por José Goldemberg, atualmente pesquisador no Centro Nacional de Referência em Biomassa, e Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP. Goldemberg e Brito integram o Comitê Organizador das convenções do GSB.

A íntegra do programa da The Latin American Convention of the Global Sustainable Bioenergy Project está em http://www.fapesp.br/gsb.

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